sábado, 10 de setembro de 2011
como balões.
Rita, desde criança, confiava demasiadamente em Flávio. Ele era seu melhor amigo desde o verão em que tinha apenas seis anos. Era nova na vizinhança e Flávio fez questão de mostrá-la tudo o que pouco conhecia por ali. Hoje ambos tem 25 anos. Ela acabara de perder drasticamente a mãe por culpa de um irresponsável que vinha na contra mão. Estava lá, debruçada no caixão. Flávio acariciou seus ombros vagarosamente. Rita sabia que poderia contar com ele, sempre e pra sempre. Ela tocou levemente em suas mãos. 'me tira daqui, por favor.' Flávio levou Rita para a praia, e ficaram lá por horas sentindo o vento. Flávio observava cada detalhe da pele pálida, dona dos olhos verdes mais encantadores que conhecia. O cabelo ruivo de Rita chicoteava seu rosto docemente a cada suspiro do vento. Ela estava de olhos fechados, sentindo a areia nos pés e o vento no rosto. Flávio a tanto tempo queria compartilhar com Rita todo o sentimento embutido desde criança. Sabia que não era nem a hora, nem o dia certo. Flávio continuava enxugando as lágrimas silenciosas que escorriam no rosto da amada. Rita sentia-se forte por Flávio estar tão perto sempre. "Você é a pessoa mais maravilhosa que conheço, Flávio. Eu o amo muito. Não quero perdê-lo nunca. Fica comigo?" Em um abraço, Flávio disse que nunca a abandonaria, mesmo que ela quisesse. Ele terminou de abraça-la olhando firmemente em seus doces e molhados olhos verdes. Rita queria muito beijá-lo, mas estava triste demais para isso, e sabia que o amigo nunca permitiria que houvesse mais que uma amizade entre eles.Ele tinha a pele morena contrastante com a de Rita. Os olhos com uma cor de mel inconfundível, com os cabelos cacheados e negros. Flávio, repentinamente, pediu que Rita esperasse um instante. Logo regressou com três balões. Rita sorriu de leve e perguntou o que fazia com aquilo. "Sua mãe, Rita. Nós... todos somos apenas balões." Rita não entendeu e permitiu que o amigo continuasse. " Somos tão pequenos, mas alguém vem, nos preenche, nos inflama de amor, de carinho, de sabedoria, de compreensão, de esperteza... alguns buscam ficar o mais cheios possível, e acabam estourando. Outros, nem querem muito e acabam murchando. Outros, por mais que se esforcem, não conseguem ser cheios. Mas, na verdade, o que acontece no final é a busca em alcançar aquilo que se deseja, de estar perto de quem te deixa cheio. E, um dia, deixá-lo escapar das nossas mãos e voar, alto. Para onde o vento tiver que levar. E torcer para que o vento não o estoure muito cedo. Para que possa voar e aproveitar por muito tempo." Rita ficou espantada com toda a história de Flávio. Ele nunca fora de falar tanto. Era sempre tão prático. Ele a abraçou desejando-a ardentemente. Havia reciprocidade, no entanto, é preciso deixar-se escapar das mãos para, quem sabe, o vento guie-os para o mesmo horizonte. Haverão perdas, muitas lágrimas. Mas eles estarão lá. Um pelo outro. Sempre. Mesmo sendo apenas amigos.
Vanessa Mano.}
Assinar:
Postar comentários (Atom)

Nenhum comentário:
Postar um comentário