segunda-feira, 25 de julho de 2011

tarde de inverno.


era um fim de tarde do inverno mais rigoroso dos últimos anos. o final do filme que assistia, me inspirou e deu-me coragem suficiente para sair na chuva e ir à sua casa. estava chovendo muito. agasalhei-me o suficiente para não me molhar muito. no caminho, comprei algo que pudesse nos aquecer e que pudesse nos nutrir. os carros que passavam me molhavam mais ainda. estava encharcada de água, de lama, de vontade e de saudade. era loucura ir até você depois de tanto tempo. mas se não fosse, iria me arrepender por muito tempo. e sonhar em como poderia ter sido. e estava cansando de deixar as coisas passarem.
a cada passo que dava, parecia ficar mais longe. na vontade, persisti. treinei por diversas vezes o que iria te dizer quando abrisse a porta. pensei em dizer que estava passando e resolvi te visitar, mas você saberia que era mentira. então resolvi ser sincera o bastante. não totalmente, mas o suficiente para que soubesses o que havia feito com que eu saísse na chuva em busca de você.
ao chegar na sua porta, a casa parecia a mesma de meses atrás. a cor era outra, haviam tido algumas reformas, mas ainda tinha o mesmo cheiro e a mesma tensão de estar em frente ao portão. antes de tocar a campainha, respirei fundo mais de cinco vezes. tremia, não mais de frio, era de medo da sua reação. de medo do seu possível desprezo. arrumei o meu cabelos com os dedos, dei uma sacudida na roupa para tirar o excesso de água, e toquei a campainha. você estava a vontade, com uma calça velha e um casaco, descalço e encolhido. só me olhou e voltou para dentro de casa. achei que não quisesse abrir a porta. virei de costas, e antes que a lágrima escorresse pelo meu rosto ouvi sua voz me chamando. 'porque estava indo embora?' 'achei que não fosse abrir' 'só fui buscar as chaves...entre'...eu o fiz. você fechou o portão. e ao olhar-me, encharcada e suja, tirou o casaco que vestia e me deu. eu tirei o meu e vesti o seu. este tinha o seu perfume tão marcado que bastou que eu respirasse normalmente para sentí-lo. Quando estava acomodada no sofá, você se sentou na minha frente, me olhou com os olhos cansados de quem acabara de acordar, e esperou que eu falasse o que viera fazer em sua casa. mostrei-lhe o vinho. disse que era pra aquecê-lo, mostrei as outras coisas que havia levado... você me interrompeu e perguntou o que eu estava fazendo. perguntou o porque de estar ali, naquela chuva. perguntou o que houve. se havia algo de errado. se eu estava bem. quando paraste, eu baixei minha cabeça. já havia esquecido de todas as coisas que passei o caminho inteiro treinando antes de chegar. olhei você, nos olhos. e firme comecei a falar o que sempre deveria ter lhe dito a muito tempo. a cada palavra pronunciada, sua face parecia não entender. seus olhos não conseguiam permanecer na direção dos meus, o que me fazia virar seu rosto a cada instante. falei por muito tempo. e você ouviu paciente. quando terminei, você olhou-me profundamente e, em uma frase conseguiu resumir tudo. com as mãos no meu rosto, você afirmou que me amava, e que nunca me esqueceu. me beijou e me amou como havera de ser. me amou como se não houvesse outra coisa, a não ser nós.

Vanessa Mano.}

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